terça-feira, 5 de novembro de 2013

A Carta!

Essa tarde tive uma ideia inusitada. Estava me comunicando virtualmente – por mensagem de celular – com uma pessoa que gosto muito. Estávamos num verdadeiro diálogo, uma conversa parecida com as que se dão ao vivo... Foi quando me lembrei do tempo que escrevia e recebia cartas, mais estimulado pela escola do que propriamente como um meio de comunicação cotidiano, como costumava ser. Mas, ainda que fomentado pela escola, passou a ser um costume. Mandava cartas pra minha tia que morava fora, alguns amigos que estavam distantes e até algumas para minha paixãozinha platônica que morava na mesma cidade que eu... E como era bom receber uma carta... No entanto, para mim caíra em desuso. Há bastante tempo não escrevia nem recebia uma carta. Resolvi então, escrever uma para essa pessoa com quem estava conversando virtualmente.
Fui escolher o papel que escreveria a carta – isso era importante oras! A final, era A CARTA que eu estava escrevendo, única e extraordinária. Depois de um tempo pensando escolhi um papel com linhas, pois minha letra ficava mais bonita e com a margem e detalhes em laranja – a cor preferida do meu estimado destinatário. Escreveria a caneta? Não, de lápis colorido, daria mais leveza e cor à carta, a tornaria mais especial e singular.
O que dizer na carta? Não estabeleceria um diálogo com o dinamismo quase instantâneo dos meios de comunicação virtuais dos dias de hoje, tampouco daria uma notícia que se urgisse fazer saber, sabia que nos encontraríamos antes da carta ser recebida. Debrucei-me sobre o papel e me detive por longos minutos a pensar o que escrever... Era simples... Na correria dos dias, na urgência dos afazeres, no dinamismo da linguagem contemporânea o que se perdia era a contemplação. Parece até demagogia com cheiro de lugar comum. O fato é que pouco tinha parado para refletir, ponderar. Pensar por pensar... Contemplar... Percebi que coisas simples ainda não tinham sido ditas, nada de importância capital que mudaria o curso das coisas. Mas coisas de um recôncavo meu pouco explorado para um recôncavo também pouco ressaltado do meu querido destinatário... Coisas que pra mim faziam bastante sentido serem ditas e que considerei importante serem ouvidas, lidas. Depois de um tempo pensando, contemplando sobre o papel saiu, quase que num respiro, uma “cartinha”. Chamo de “cartinha” não pela pequinês, mas pela simplicidade. Nada muito grande, muito revelador, mas era singular, singela e tinha uma partezinha minha lá que eu gostei bastante de conseguir fazer aparecer nela e tinha também um “retratozinho” do destinatário que me alegrou bastante que eu consegui colocar lá.
Saí para entregá-la. Fui até os correios. Há quanto tempo não entrava numa loja dos correios? Há quanto tempo não entrava numa loja dos correios para mandar uma carta? Enquanto esperava na fila, tentava me lembrar das formalidades de como mandar uma carta. Onde coloco o endereço do destinatário? Onde é o remetente? E o selo? Tenho que pagar? Quanto estaria custando uma carta? Como mandaria? Sedex ou Sedex dez? Correspondência comum? Em meio a essas questõezinhas me perdi ouvindo um Lulu Santos de fundo... Era uma música do primeiro cd que tive quando criança. E sabe como é a música, nos transporta pra um lugar, pra uma época. Fui parar nos meus 10 ou 11 anos, mesma época em que fui fazer uma visita aos correios com a escola. Lembrei-me do mar de cartas que vimos por lá, de como eram separadas e agrupadas para serem entregues. Lembro-me dos pacotes e da curiosidade que me suscitaram – o que tinha dentro deles? Cada um de nós levou uma carta para ser entregue... Quantas pessoas mais não receberiam cartas aquele dia além das nossas? Era um mar de cartas... “Imagina só quanta coisa escrita aqui nessas cartas...” – pensava eu. A hora do selo, no entanto, foi provavelmente a mais empolgante. Meu amigo tinha uma coleção de selos muito grande, invejável. Mas a quantidade, diversidade e raridade dos selos que o rapaz que estava conduzindo a visita nos mostrou aquele dia superou inegavelmente a coleção do meu amigo, foi uma euforia generalizada, saí de lá disposto a colecionar selos.
Mudou a música e eu voltei para a fila. O que será que as pessoas da fila iriam entregar ali, pelos correios? Passei a reparar e procurar descobrir. Um celular esquecido; cosméticos que tinham sido vendidos e deviam ser entregues; documentos, que provavelmente deveriam ser assinados; mais documentos; nenhuma carta! A função dos correios mudou, agora é outra – talvez para entregar mercadorias, coisas esquecidas, presentes, documentos, mas cartas não mais.  As pessoas não mandam mais cartas pelos correios. Temos e-mails, facebook, whats app, twitter, skype, telefone, enfim, a carta é pouco eficiente e muito demorada, a comunicação fica muito truncada e ainda por cima é cara se comparada com os outros meios. 
Talvez essa seja a função da carta nos dias de hoje, desacelerar em tempos de aceleração frenética... A carta me fez muito bem, mostrou-me coisas que talvez passassem desapercebidas na velocidade das comunicações contemporâneas. Um pouco como uma rua que a gente passa todo dia de carro, conhece bem, até que um dia a gente acaba passando por ela à pé e descobre infinitas outras coisas que ainda não tínhamos reparado quando estávamos no carro. A carta é andar à pé, é contemplar, é parar para pensar e é também uma surpresa e uma felicidade quando a gente recebe... Às vezes parece que estamos com o remetente ao recebemos uma carta, vem um pouco do cheiro da pessoa e vem também aquela partezinha deixada para trás com a velocidade dos tempos. Partezinha essa que é tão individual, tão pessoal e tão profunda.

Espero que a pessoa que receba minha carta sinta essa partezinha minha e goste da partezinha dela que eu coloquei no “retratozinho” que fiz. Espero também que se surpreenda como me surpreendi, com a importância, a singeleza e a beleza que ainda tem A CARTA! 

Despidxs

14 comentários:

  1. Que experiência magnífica! Também escrevia cartas, e, as recebia. Há uns dois anos resolvi escrever uma carta para a minha prima, assim fiz com muito carinho.
    Eu esperava que ela se surpreendesse com a carta e me ligasse, ou, me escreve em resposta, mas, passado alguns meses percebi que, ou ela não havia recebido, ou simplesmente ignorou, e adivinha? Ela ignorou.
    Quando liguei para perguntar se havia recebido alguma coisa minha ela disse: "Ah! desculpa! Eu recebi, mas a correria do dia-a-dia me fez esquecer, e agora, nem sei onde coloquei."
    Que pena, pensei, poderia ter sido muito divertido! Espero que com você o resultado seja diferente...estou na torcida!!!!

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  2. Amo cartas! Quando pequena eu também escrevia cartas... usava minha coleção de papeis de carta para mandar. O difícil era escolher qual papel de carta eu iria usar...achava todos tão lindos que tinha dó! hahaha
    Mandava cartas para minhas primas, amigos, parentes... sempre usando aquela caneta gel cara, que eu reservava para escrever coisas especiais!
    Mas, tudo o que é bom um dia acaba...O mirc, o icq, a sms, o msn, o orkut, o facebook, o whatsapp... novas formas, algumas já em desuso, de se comunicar fizeram com que a carta desaparecesse da minha vida... Até que no segundo semestre do ano passado, uma amiga da faculdade teve a brilhante ideia de trabalhar com cartas com seus alunos do estágio. Eles enviaram cartas para algumas meninas da faculdade, inclusive para mim, contando como tinha sido a experiência de ouvir uma determinada história. Adoreeei responder cada uma das cartinhas e para minha surpresa, quando as aulas já tinham acabado, cheguei em casa e vi um pacote, e quando abri havia uma carta dessa amiga da faculdade juntamente com um livro infantil me agradecendo pelo trabalho de ajudá-la a responder as cartinhas dos alunos. Há tempos não sentia essa emoção e pra mim, foi inesquecível!

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  3. Sempre fui ansiosa por receber e ver as minhas correspondências. Um dia, em meio a esta ansiedade, estava próxima a uma amiga que se indignou com esta minha euforia. Respondi que cartas vêm sempre carregadas de “GRANDES Possibilidades!”, ao que ela me respondeu: “...e de GRANDES contas também!”.
    Porém o que muitos não entendem é que não se trata de uma admiração da carta pela carta, e sim pelo processo, tanto de ler quanto de escrever! Transpor ao outro algo que precisa ser exalado de forma que o outro compreenda e se envolva neste texto é muito bom!

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  4. Belo texto de uma experiência inusitada! Concordo com você quanto a contemplação, nossos meios de comunicação atuais tão rápidos que não nos permitem o tempo para refletir sobre o que e como escrever, simplesmente vamos dizendo as coisas sem muito pensar, as vezes falamos apenas com emotions e o texto pensado com cuidado vai sumindo.....
    Sempre que posso arrumo um pretexto para mandar uma carta pelo correio!!

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  5. Nossa faz muito tempo que não escrevo uma carta! Acho que nem tenho envelope na minha casa ehaheha. Eu adoraria receber uma! Vou botar essa ideia em ação e escolher uma pessoa bem especial para mandar. Show de ideia!!!!

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  6. Que texto bonito, heim...há grandes escritores nesse curso de pedagogia! Linda a forma que você escreveu e o tema que trouxe, "a carta". Faz muito tempo que não mando uma carta e nem aqueles cartões postais que enviava para os meus amigos e parentes quando viajava. Como seria bom escrever uma carta e vivenciar todos esses momentos que você descreveu...sempre enviava cartas para os meus amigos da rua do meu avô no Pernambuco, onde passava as férias, tanto que tenho muitas cartas guardadas e gosto muito de lê-las e voltar no tempo...que delícia que é a carta, muito obrigada por ter trazido esse tema!!

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  7. Pra não falar que faz muiiito tempo que escrevo uma carta, escrevi no dia dos namorados para o meu, masss nao mandei pelos correios. Pensando bem, acho que nunca enviei uma carta pelos correios, quando era mais nova trocava carta com as minhas primas que moravam em Foz do Iguaçu e todas as vezes que eu respondia, era sempre a minha mãe que levava.
    Claro, nao podemos negar a facilidade dos meios de comunicação hoje, a rapidez, a acessibilidade, mas nada como receber uma carta, escrita á mão né?!

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  8. Ah por mais tecnologia que temos atualmente, nada substitui a ansiedade de esperar uma carta de alguém chegar pelo correio. Quando eu era adolescente, tinha alguns amigos que moravam na praia e que eu conseguia visitar só nas férias...Na época, já tínhamos e-mail, ICQ (noooossa...) e celular...Mas nos comunicávamos por cartas...era muito bom quando eu olhava embaixo da porta do apartamento que eu morava e lá estava a carta da Camila...As vezes vinha em envelopes enormes, com cartas não só dela, mas que ela recolhia entre a turma para me enviar! Eles me mandavam desenhos, fotos, e todas as novidades, as fofocas...Eu lia, relia, lia de novo, sempre que me dá saudade dessa fase, ainda pego as cartas e leio! Essa foi a melhor lembrança que estes momentos puderam deixar e tendo a certeza que sistema nenhum apagará ou sumir com aquelas lembranças! Hoje em dia, quando o correio passa, só deixa tristeza...contas e mais contas pra pagar (hahahahahha), mas vez ou outra aparece algumas encomendas que nos alegram! Foi muito bom poder relembrar esses momentos com a leitura desta postagem! Valeu galera...

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  9. Que lindo seu relato! A carta é realmente tudo isso! Traz e leva muitas emoções. Mas, sou muito suspeita. Minha mãe trabalha nos Correios há 27 anos, então, eu sempre fui apaixonada por cartas e selos. Me encontrava todos os dias com minhas amigas na escola e depois mandava cartas pra essas mesmas meninas. E como era gostoso! Eu escolhia o tipo de papel de carta, a cor da caneta, colava figurinhas e enfeitava o envelope. E minha mãe colocava nos Correios, por R$ 0,01. Isso mesmo, um centavo. O selo que eu mandava tinha esse valor, era só escrever no envelope "carta social". E depois eu também ficava aguardando a resposta. E como era gostoso ir até o portão e pegar a minha carta. Eu abria com cuidado, e me deliciava com as palavras. Cheguei a receber mais de 200 cartas. E também tive um coleção de selos muito linda. Hoje, não mando mais cartas com frequência, e também não recebo tantas, mas sempre me emociona chegar no portão e saber que tem uma carta pra mim. Abro com cuidado, leio e releio, me deliciando com cada uma das palavras...

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  10. Sempre fui de escrever cartas pra todo mundo, mas foras poucas as vezes que as enviei pelo correio. Minhas cartas eram mais para minhas amigas, família, namoradinhos. Atualmente só escrevo em ocasiões especiais..pra colocar em um presente de aniversário, natal, essas coisas! Deve fazer uns 10 anos que não entro em um correio :S
    Adorei sua ideia e sua experiência! Tenho minha caixa de cartas antigas até hoje, e sinto como se estas palavras escritas no papel não se desfizessem tão facilmente quanto as que escrevemos por msgs no celular, no email, no facebook..

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  11. Que texto LINDO, compartilhei da sua ansiedade e quero saber o desenrolar dessa experiência! Guardo todas as cartas que já ganhei com um carinho imenso. Acredito que por mais que elas tenham caído no desuso nunca saíram de moda, sempre terão pessoas para lembrar o quanto é gostoso a sensação de escrever e receber uma carta!

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  12. Que texto legal e que leitura gostosa de se fazer. Você nos trás um novo olhar sobre a carta e nos enche de vontade de escrever uma. Realmente a carta nos dias de hoje é como uma desaceleração deste mundo corrido em que vivemos e nos habituamos a viver. Com calma, escrevemos tudo aquilo que sentimos vontade, nos dedicamos, relemos, tomamos cuidado com o papel que vamos usar, a caneta ou o lápis, e etc. Isso me faz pensar a quantidade de carinho, atenção e dedicação que se encerram em uma carta.
    Não quero dizer que todas as cartas são escritas desta forma, mas que deveríamos dar mais atenção a esta forma de comunicação, nós deveríamos.
    A escrita é uma das tecnologias mais importantes inventadas pelo homem, desta forma, a carta nunca deveria sair de moda.

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  13. Adorei o texto! Também perdi o hábito de enviar e receber cartas, mas me lembro que preservava ele com uma amiga minha, pois ela morava em BH e eu em Campinas. Ela é artista, e também me mandava desenhos, zines, etc. Era muito legal! Esses dias, ela me mandou uma carta que ela havia me enviado há muitos anos, e retornou, não sabemos por quê. Foi demais estarmos mais velhas e olharmos o que conversávamos quando éramos mais novas.

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